terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Galo Bartimeu volta às aulas

Começou o mês de fevereiro e tudo ia muito bem na fazenda Capim Dourado, onde morava o nosso querido galo Bartimeu.

_ Bom dia, galo – disse a dona pata.

_ Bom dia – respondeu Bartimeu.

_ Tudo bem com você?

_ Tudo bem sim, dona pata. Tudo em paz. Mas é tanta paz que tem hora que até cansa.

_ Ihh, mas que conversa é essa? Está pensando em sair pra se aventurar de novo? Não lembra do que aconteceu quando você inventou de ir passear na cidade?

_ Lembro sim. Foi uma loucura! Mas… sabe que não é uma má ideia? Quem sabe se eu for de novo agora, já sabendo o que vou encontrar, pode ser até divertido? E além do mais, ouvi o leiteiro dizendo que as aulas vão começar essa semana.

            Dona pata saiu dali para ir cuidar de seus afazeres, deixando o galo entretido em seus próprios pensamentos e divagações.

            Enquanto isso, lá na cidade, uma doce menininha se preparava para enfrentar o primeiro dia de aula em sua nova escola.

            Júlia tinha oito anos e estava prestes a iniciar o terceiro ano do Ensino Fundamental naquela mesma escola onde o galo Bartimeu havia se aventurado ano passado.

            Ela estava muito apreensiva, pois estava usando aparelho para alinhar seus dentes e neste novo ano precisaria usar aquele aparelho externo que todos chamam de “freio de burro”, por se parecer com um cabresto, utilizado em animais. 

            Como será que os alunos a receberiam? Será que ia conseguir fazer amizades ou seria ridicularizada pelos colegas? Será que alguém teria coragem de andar ao lado dela e enfrentar todos os demais?

            Júlia já tinha pensado tanto neste assunto que sua cabeça chegava a doer. Imaginava mil cenários possíveis, passando dos mais desagradáveis até os mais otimistas, onde todo mundo na nova escola seria amigável e maduro o suficiente para não se importar com seu acessório ortodôntico. 

_ Calma, minha filha – dizia sua mãe, dona Regina – tudo vai se ajeitar. Não se preocupe tanto, você logo vai fazer amigos. É impossível não gostarem de você.

_ Ah, mãe! Você diz isso porque é minha mãe. Você me ama. Você não tem outra opção.

_ Ah, eu tenho sim! Eu te amo porque você é minha filha, mas também te amo pelo que você é. Você é uma menina encantadora, muito inteligente e divertida, a melhor amiga que alguém poderia ter. Só não vê quem não quer. 

_ Obrigada, mamãe. Também te amo muito.

_ Vou te dar uma dica, Juju. No começo, fique na sua, seja observadora. Se tiver oportunidade de ajudar alguém, ajude. Todos estão sentindo as mesmas coisas que você. Todos estão ansiosos para conhecer a nova sala, os novos colegas e professores. Todos querem ser aceitos e fazer novos amigos. Se tiver oportunidade, dê o primeiro passo, se apresente para alguém e inicie uma nova amizade. Não fique só esperando. Mas vai dar tudo certo, eu tenho certeza disso.

            O dia amanheceu e, antes que o despertador tocasse, Júlia já estava com sua mochila arrumada, de banho tomado, vestida com seu novo uniforme escolar, esperando ansiosamente que o pai acordasse para levá-la a escola.

_ Vamos, pai! Não quero me atrasar!

_ Calma, minha filha. Está cedo ainda.

_ Eu quero chegar bem cedo pra escolher um bom lugar pra mim, bem na frente se for possível. Gosto de enxergar o quadro bem de perto.

_ Tá certo, Júlia. Deixa só eu engolir pelo menos uma xícara de café e já vamos.

            Enquanto isso, na escola, as crianças iam chegando, pouco a pouco e a movimentação ia crescendo.

            A aula começou e tudo estava correndo bem, para alívio de Júlia. Os professores que ela já tinha conhecido até o momento eram todos muito agradáveis e gentis. A sala era quieta e os alunos estavam bem comportados. 

            “Não sei se isso é só timidez de primeiro dia de aula, mas se continuarem assim, vou gostar muito desses colegas. Odeio sala barulhenta demais.”

            O sinal para o recreio tocou e foi aquela correria de sempre. Júlia esperou um pouco a “cavalaria” passar e saiu depois, quando o corredor estava mais calmo.

            Júlia pegou sua lancheira e escolheu um banco vazio para se sentar e lanchar. Já estava se encaminhando para um banco bem em frente à quadra quando olhou ao redor e viu uma menina de sua sala sozinha, cabisbaixa e sem lanche, sentada na mesinha de pedra embaixo de uma árvore frondosa. Lembrando do conselho de sua mãe, resolveu se aproximar e conversar.

_ Oi, meu nome é Júlia. Posso me sentar aqui com você?

A menina respondeu “oi” e fez que sim com a cabeça.

_ Você está na mesma sala que eu, né? Qual é o seu nome?

_ É… acho que estamos sim… eu me chamo Ana.

_ Está tudo bem? Você parece meio triste. Aconteceu alguma coisa?

_ É que eu me mudei há pouco tempo pra cá… este é meu primeiro ano nessa escola. E minha mãe começou no novo emprego agora. Ela ainda nem recebeu o salário… por isso eu vou ter que vir sem lanche por enquanto. Eu tenho mais dois irmãos que estudam em outra escola e ela não tem dinheiro pra comprar lanche pra todos nós. Por isso me sentei aqui bem longe, pra não ter que ficar vendo os outros comerem e eu com fome…

_ Nossa… que ruim… eu entendo você. Este também é o meu primeiro ano aqui. Eu também estava bem apreensiva antes das aulas começarem. Mas olha: minha mãe manda sempre tanto lanche pra mim que eu não consigo comer tudo. Vai ser muito bom ter alguém pra dividir comigo. Você gosta de bolo de banana? Minha mãe fez ontem à noite. Está bem fresquinho ainda.

_ Eu adoro bolo de banana! É o meu preferido!

_ Então você vai gostar muito desse aqui. O bolo que minha mãe faz é o melhor do mundo!

            As duas garotas passaram o tempo do recreio comendo e conversando ali debaixo da árvore, contando suas experiências nas escolas anteriores e se conhecendo um pouco.

            Tudo ia muito bem, até que, quando o sinal estava prestes a tocar anunciando o fim do intervalo, passaram dois meninos do quarto ano e começaram a apontar para a direção de Júlia e dar gargalhadas de zombaria.

            Júlia percebeu, mas desviou o olhar e tentou fingir que estava tudo bem.

_ Não liga pra eles, Júlia! Os meninos são assim mesmo. Sempre escolhem alguém pra implicar. É só fingir que não está vendo.

            Mas os meninos começaram a vir cada vez mais perto e falavam bem alto: 

_ Olha, gente! Não sabia que aqui na escola, cavalo também podia estudar. Ou melhor, égua! Você sabia, Caio? 

            E dizendo isso, os dois meninos e outros ao redor começaram a rir cada vez mais alto e a zombaria só aumentando.

            Júlia abaixou a cabeça e tentava com todas as forças não chorar, pois sabia que era isso que eles queriam. 

            Os meninos chegaram bem perto da mesa dela, embaixo da árvore e quando ela achava que não ia mais conseguir segurar o choro, ela viu alguma coisa bem rápida passando por cima de sua cabeça e indo em direção aos meninos. 

            Era o galo Bartimeu que estava empoleirado na árvore e estava assistindo a tudo, desde o começo. Com um golpe rápido ele pulou da árvore e se jogou em direção ao menino que estava insultando Júlia, batendo as asas rapidamente e dando várias bicadas em sua cabeça.

            O estardalhaço foi tão grande que os valentões saíram todos correndo e gritando, assustados com o galo que tinha surgido “do nada”.

            A partir daquele dia, Júlia, Ana e o galo se tornaram inseparáveis. Na hora do intervalo os três desfilavam sempre juntos pelo pátio da escola e ninguém nunca mais se atreveu a falar nada dela.

            Naquele primeiro dia de aula, quando Júlia voltou para casa, teve muita história pra contar aos seus pais.

_ Sabe, mãe e pai. Eu já tinha ouvido falar de alguém que foi salvo pelo gongo. Mas salvo pelo galo, foi a primeira vez!

            E caíram todos na gargalhada. Mais uma vez, nosso herói Bartimeu salvou o dia.

Por: Bia Borges

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