O atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais, incluindo diagnósticos como TDAH e transtorno do espectro autista, tem sido uma pauta de crescente relevância em Amambai. Recentemente, a exoneração de professores de apoio na rede municipal gerou inquietação entre pais e educadores quanto ao suporte oferecido a esses estudantes. Em resposta, a Secretaria de Educação assegurou que todos os alunos seguem recebendo a assistência necessária. Essa questão levanta o debate sobre o modelo de ensino inclusivo e os desafios no acompanhamento dos alunos que necessitam de suporte extra.
Para garantir o desenvolvimento integral dos estudantes com necessidades específicas, o papel de profissionais qualificados e de instituições especializadas é essencial. A neuropsicopedagoga / orientadora educacional, Raquel Cazari, destaca que a inclusão escolar de crianças com necessidades educacionais especiais representa um grande desafio para a educação contemporânea. Ela explica que a adaptação ambiental – que engloba modificações físicas, pedagógicas e sociais no ambiente escolar – potencializa a participação e o aprendizado dessas crianças.
“Não é o aluno quem deve se adaptar ao currículo, mas sim o currículo que deve se adaptar ao aluno”, afirma Raquel, citando Amaral (2014). “A inclusão exige uma estruturação flexível, que promova tanto a independência quanto a convivência em grupo, desenvolvendo competências sociais e autonomia para a vida.(…) Se uma criança com potencial para a independência não for incentivada a isso, ela enfrentará barreiras ao longo da vida,” explica Raquel. “Nosso papel é trabalhar as habilidades para a convivência social, preparando-a para interagir no mercado, em uma festa ou em qualquer outro ambiente. É uma construção que deve respeitar cada fase e potencialidade.”
Raquel reforça que a inclusão escolar efetiva requer adaptações curriculares e transformações no ambiente escolar, que promovam uma participação ativa e um desenvolvimento autônomo dos alunos. Ela destaca que a construção de um ambiente inclusivo não deve ser rígida, mas sim flexível e adaptável, capaz de atender às necessidades individuais de cada criança.
Outro ponto crucial trazido por Raquel é o papel do profissional de apoio escolar, conforme previsto pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que garante esse suporte aos estudantes com deficiência. A legislação define que o profissional de apoio deve auxiliar em atividades de alimentação, higiene e locomoção, atuando nas atividades escolares sempre que necessário.
“É muito importante avaliar a necessidade da presença desse profissional em sala de aula, de forma que sua atuação tenha como objetivo central promover a autonomia e independência do estudante, tanto na escola quanto fora dela,” afirma Raquel. Ela ainda enfatiza que cada processo de inclusão é único, e a decisão sobre a necessidade de apoio deve envolver todos os atores – alunos, família, educadores, terapeutas e demais envolvidos.
Além do trabalho desenvolvido nas escolas, a APAE de Amambai exerce um papel essencial no desenvolvimento dos alunos com deficiência intelectual, múltipla e transtorno do espectro autista. A Escola Especial Renascer da APAE realiza atividades fundamentais que complementam a educação inclusiva no município. Vanessa Rolim, coordenadora da APAE, descreve a missão da instituição:
“A Escola Especial Renascer tem como objetivo promover a atenção integral à pessoa com deficiência intelectual e múltipla e com transtorno do espectro autista. Realizamos ações com os estudantes em áreas que desenvolvem as habilidades sociais, cognitivas e motoras. O professor na educação especial foca na prática educativa intencional, contribuindo para a formação do ser humano como membro da sociedade. Atuamos desde a estimulação precoce até a educação profissional para a idade adulta. Um aprendizado adequadamente estruturado resulta em desenvolvimento mental e promove a autonomia dos estudantes.”
A atuação da APAE, que vai desde a estimulação precoce até o desenvolvimento de habilidades profissionais, é essencial para a criação de uma rede de apoio para a educação inclusiva em Amambai. Ao proporcionar suporte específico para cada fase da vida dos estudantes, a APAE possibilita que jovens e adultos com necessidades especiais tenham uma vida ativa e participativa.
Para traduzir as conquistas atuais em mudanças reais e duradouras, Raquel Cazari reforça a importância de políticas públicas e de investimento em formação continuada para profissionais de educação, garantindo que as adaptações no ambiente escolar sejam sustentáveis.
“Cada adaptação e cada intervenção aproximam a escola de um sistema verdadeiramente inclusivo,” conclui Raquel. “Estamos apenas no início de uma jornada longa, mas essencial, para uma inclusão educacional de qualidade.”
A construção de uma educação inclusiva, como ressaltam os especialistas de Amambai, vai além da estrutura de ensino. É uma jornada que exige adaptação, apoio e compromisso coletivo para garantir que cada aluno, em seu próprio ritmo, possa se desenvolver e ocupar seu espaço na sociedade.
Por: Raquel Fernandes