segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Bartimeu e o Dia das Crianças

_ Amanda!!!! Vem logo, eu quero brincar!!!!

_ Tá bom, Juliana, tô só amarrando meu tênis!!!

            Era a “Semana do Saco Cheio” na escola da cidade (semana em que se comemora um feriado religioso + Dia das Crianças e Dia dos Professores) e as duas irmãs foram com seus pais para a fazenda Capim Dourado. Lembram? Aquela mesma fazenda onde vivia o mal-humorado Galo Bartimeu. Era a primeira vez das meninas nesta fazenda. O pai delas era amigo do dono. Fazia tempo que elas queriam conhecer o lugar e, finalmente, tinha chegado a hora. Elas iam passar quatro dias inteirinhos brincando, comendo e se divertindo.

_ Olha, Ju! Que fofos esses patinhos!!! 

_ Ownnn! É mesmo!!! Todos enfileirados andando atrás da mamãe pata! Pega o celular! Vamos filmar e postar um story?

_ Sim!!! Vai ficar lindo!

            Da varanda do fundo da casa, os adultos conversavam animadamente enquanto tomavam um café e olhavam as crianças ao longe.

_ Olha lá, amor! As duas brincando com os patinhos! Não largam o celular. Registram tudo. Mas tá bom, pelo menos estão respirando ar puro e tomando um pouco de sol.

_ Verdade, querida! Até que me surpreenderam. Achei que elas fossem reclamar de tudo: da terra, dos mosquitos, do calor! Mas estão adorando o passeio.

_ Sim, estão mesmo. Mas também, quem poderia reclamar disto aqui? 

_ Com certeza. Estamos num pedaço do paraíso!

            A tarde corria tranquila e morna, os adultos fazendo planos e as crianças aproveitando tudo, e registrando tudo também, claro.

_ Amanda, duvida que eu subo naquela árvore bem rápido?

_ Bem… que você consegue subir eu não duvido. Mas que não vai despencar de lá, aí eu já não tenho tanta certeza!!! Há! Há! Há!

_ Ah, é? – disse Juliana indignada – então fica olhando!

            Juliana subiu na velha goiabeira com uma destreza e agilidade impressionantes para uma menina que havia passado mais da metade da vida numa pequena casa apertada na cidade. Amanda observava tudo com muito espanto quando de repente…

Bartimeu e o Dia das Crianças

_ Cocó-rico-có-có.. co-coooooooó!!!!!!!!!! – fez o galo Bartimeu.

_ Cocó-rico-có-có.. co-coooooooó!!!!!!!!!!

E de novo e de novo, completando três séries de três “cocoricadas” cada uma. O problema é que na primeira “cocoricada” Juliana levou um susto tão grande que se desequilibrou e, para não cair, segurou no primeiro galho que viu pela frente.

O pequeno galho seco não conseguiu suportar o peso dela e com um “crec” seguido de um “tum”, Juliana despencou no chão lamacento.

_ Julianaaaaaa!!!! Você está bem? – gritou Amanda.

            A menina demorou alguns segundos para conseguir se recompor e falar.

_ Ai…. ai…. sim… eu estou bem, mana. Me dá só um tempinho… preciso me acalmar.

_ Que susto você me deu!

_ Eu? Eu te dei um susto? Quem me assustou foi esse galo escandaloso! Precisa disso tudo só pra avisar que o sol está se pondo? Que isso, que exagero! Quase me mata. Se não matasse de susto, ia matar pela queda.

             Nisso os adultos chegaram correndo até o pomar.

_ Tudo bem, filha? Você se machucou?

_ Tudo sim, mãe. Foi só um susto mesmo. Um tremendo susto que esse galo me deu. Eu me desequilibrei e caí. Mas está tudo bem.

_ Vocês me desculpem, pessoal – disse Sr. Francisco, o dono da Fazenda – esqueci de avisar que esse galo é meio doido. É doido, mas é muito “gente boa”, se fosse gente – disse sorrindo. Esse é o galo Bartimeu. Pense num bicho pontual. É mais pontual que os relógios suíços, pode confiar. Galo bom igual esse aqui, não se encontra fácil, não.

_ Está tudo bem, Sr. Francisco – disse o pai das meninas – Ela só não estava preparada para o canto do Bartimeu. Ele canta tão forte que eu acho que o senhor tinha que mudar o nome dele para Luciano Pavaroti! Esse canta forte mesmo! Acho que não tinha visto um igual!

            Todos sorriram e voltaram para casa. Ao caminhar para fora do pomar, notaram que o galo vinha lento e cabisbaixo, acompanhando o grupo de mansinho.

_ Olha, Ju! Parece que ele está triste. Acho que está arrependido por ter te derrubado da goiabeira.

_ Será? Mas acho que bicho nem entende nada dessas coisas!

_ Ah… não sei, viu? Acho que eles entendem bem mais do que nós imaginamos.

_ Owwwnnn, vem aqui, galinho – e dizendo isso, Juliana pegou o galo de surpresa, o abraçou e o beijou. Bartimeu não teve nem tempo de reagir. Ficou paralisado de medo. Se lembrou dos momentos de aventura que viveu quando resolveu “sair de férias” na carroça do leiteiro e decidiu que o melhor era ficar quieto para não piorar as coisas.

_ Olha, Juliana! Ele gostou de você!!! Olha como ele ficou quietinho!!!

_ É mesmo, Amanda! Você estava certa! Ele estava mesmo arrependido e precisando de um abraço. Vamos levá-lo pra dormir com a gente na casa?

_ Anh? Dormir? Acho que não dá certo, não. E se ele cantar de madrugada? Vai ser outro susto daqueles, além de acordar a casa toda!

_ Verdade! Não tinha pensado nisso. É melhor você ficar aqui, galinho! Sei que você gostou muito de mim, mas agora precisamos nos separar. Mais tarde a gente se encontra novamente.

            E dizendo isto, a garota colocou o galo no chão e saiu. Bartimeu estava suado e com o coração disparado. Se não tivesse tantas penas, daria pra ver a palidez em seu rosto.

_ Ah, Amanda! Vamos fazer um vídeo com o galo?

_ Um vídeo?

_ É!!! Um vídeo curto, tipo os “shorts”, da internet. Vai ser super legal, vai dar um monte de gente, muito engajamento, pode até viralizar! O que você acha? A gente pode até ficar famosa! Já pensou???

_ Isso!!! Isso mesmo! Vamos sim, já tenho até ideia para a legenda.

_ Ah, é? Fala aí!

_ Põe assim oh: O dia em que fui para a fazenda e ganhei um seguidor!

_ Isso! Genial! Manda ver!

            Juliana agarrou o pobre galo novamente, que ainda nem tinha se recuperado do primeiro susto e começou a gravar o vídeo. E abraçava o galo, beijava o galo, colocava no chão, pegava novamente. E repetia o vídeo de novo e de novo, até ficar bom. O coitado estava que não se aguentava mais, quase sofrendo uma parada cardíaca de tanto estresse.

_ Pronto, Amanda! Acho que tá bom, né?

_ Sim, está muito massa! A gente vai viralizar, mana, tenho certeza!

_ Tchau, galinho – disse Juliana – foi um prazer te conhecer!

            E, dizendo isso, colocou o galo no chão, que ficou quietinho de tanto cansaço.

_ Olha, Ju, ele tá triste! Acho que ele queria vir com a gente!

Leonora, a irmã de Bartimeu, observava tudo de longe e veio ao encontro dele fazendo o maior barraco, no estilo “galinha choca”. As irmãs correram assustadas e deixaram a dupla de aves em paz.

_ Irmão! Irmão! Você está bem?

_ Ah, minha irmã, socorro! Ainda bem que você chegou. Fique aí de vigia! Não deixe essas malucas chegarem perto de mim outra vez! Por favor, me proteja! Nunca mais na minha vida eu quero me encontrar com um ser humano que não sejam os adultos aqui da fazenda. Nunca mais. Oh gente pra ser doida esse povo da cidade!

            Enquanto isso, na sede da fazenda, as irmãs se divertiam editando e depois se deliciando com a repercussão do vídeo do Bartimeu.

_ Amei, irmã! Vamos fazer isso mais vezes! 

_ Sim, sim!!! Vamos pensar em outro vídeo pra amanhã?

_ Vamos!!!

            Lá no terreiro, os animais da fazenda sentados em círculo, ouviam horrorizados o relato do galo Bartimeu:

_ E foi isso, amigos. Foi assim que eu quase bati as botas esta tarde. Está cada vez mais perigoso ser um galo hoje em dia.

_ É mesmo, irmão – disse o cavalo. Bem que você comentou que preferia ter nascido uma árvore…

            E sob o chirriar dos grilos e a luz prateada do luar, se encerrou mais um dia na fazenda Capim Dourado… apenas o primeiro dia da saga: Bartimeu e o Dia das Crianças.

Por: Bia Borges

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