sábado, 5 de outubro de 2024

A melhor mãe da galáxia

“Vou destruir todos vocês, terráqueos!” – disse o vilão extraterrestre chamado Kitrix, do seriado que Jean mais gostava. “Vocês não merecem morar neste planeta tão cheio de recursos, se vocês nem mesmo sabem cuidar dele! Não adianta fugir, vocês já estão cercados! Nós somos a maioria. Já estamos entre vocês há muito tempo e vocês nem perceberam! Huahuahuahua!” encerrou Kitrix, com aquela voz rouca horripilante!

_ Jean! Desliga esse computador e vem almoçar!

_ Tô indo mãe, já tá quase acabando esse episódio! Só mais um minuto!

O episódio acabou e Jean foi ao banheiro lavar as mãos para almoçar. Sentou-se à mesa da cozinha e já sentiu aquele cheirinho familiar: o bife de vaca mais gostoso do universo, aquele que só a mãe dele sabia fazer igual. “Como é que ela consegue fazer uma comida tão gostosa e diferente de todas as outras?”, pensou ele.

Todos almoçaram juntos; Jean, seu pai, sua mãe e seus outros dois irmãos. Tudo correu como em qualquer outro dia. Seus pais conversando, perguntando sobre o dia dos filhos, contando as coisas deles. A mãe falando de como a fila do supermercado estava lenta e o pai reclamando do preço da energia: “Vocês vão ter que me ajudar a economizar, gente! Não sou sócio da ENERGISA, não! Esses banhos de quarenta minutos, esse videogame ligado o dia todo, vocês toda hora abrindo geladeira, esquecendo a luz ligada onde não tem ninguém, isso tudo vai ter que acabar! Dinheiro não dá em árvore!”

Logo todos acabaram e correram para suas tarefas. O pai voltou para o trabalho levando Diego, o filho mais velho, que naquele ano tinha começado a trabalhar com ele. Rodrigo, o filho do meio, pegou sua bicicleta e seguiu para a casa de um colega, onde tinha marcado um trabalho em grupo. Ficaram em casa apenas Jean e sua mãe.

“Oba! Vou dormir uma meia hora antes de fazer minhas tarefas e estudar para aquela prova da semana que vem”, pensou ele. Antes disso Jean deu mais uma olhadinha no celular para ver se tinha alguma mensagem nova ou alguma publicação interessante de seus amigos. Ao ir para o quarto, deu uma passada pela cozinha, a fim de beber uma água bem gelada, como ele gostava. Chegando lá, percebeu que tudo já estava organizado e sua mãe estava acabando de limpar o fogão. “Uau! Minha mãe é muito rápida! Como ela consegue ser assim? Eu pareço mais um bicho-preguiça depois do almoço e minha mãe parece uma formiguinha trabalhadeira que nunca se cansa!”

O dia foi passando, Jean acordou de seu cochilo, fez suas tarefas, tomou um café, estudou para a prova, deu mais algumas olhadas em seu celular, estudou mais um pouco, resolveu dar um tempo para fazer um lanche. Em cima da pia, esfriando, havia um delicioso bolo de cenoura, o preferido dele. Lá da área de serviço, sua mãe o chama:

_ Filho! Você pode vir aqui me ajudar estender essa roupa no varal?”.

_ Estou indo!

Mais uma vez Jean ficou admirado: “Como ela consegue fazer tanta coisa em tão pouco tempo? Já arrumou a cozinha, fez bolo, lavou roupas!”

_ Mãe! A senhora é de carne e osso?, brincou ele.

_ O que é isso, menino? Que pergunta é essa?

_ Estou brincando, mãe! – disse ele sorrindo – é que a senhora parece uma máquina que nunca para e nunca se cansa! Como a senhora consegue ser assim?

_ Ah, meu filho! Bem que eu queria parar! Mas o serviço de casa nunca acaba! E se eu passar um dia sem arrumar essa casa, isso daqui vai virar um chiqueiro. E você sabe muito bem por que, né? Você e seus irmãos são os porquinhos!

_ Hahaha! Que exagero, mãe! Mas somos uns porquinhos bem cheirosinhos, confessa!

_ Ah, sim. Ainda mais quando tiram os tênis depois de voltar do futebol! Vocês são mesmo, SUPER cheirosos!

Os dois deram gargalhadas e terminaram de estender as roupas. O sol estava se pondo e logo o restante da família chegaria em casa. Todos mortos de fome, como sempre. Jean viu que a varanda da frente estava precisando de um trato e foi logo tomando uma atitude. Pegou vassoura, balde, rodo e pano e fez aquela limpeza caprichada.

_ Ai! Estou morto! – disse ele – vou tomar um banho e assistir mais um pouco da minha série até a janta ficar pronta.

Enquanto isso, sua mãe estava a todo vapor na cozinha, picando alimentos, mexendo as panelas e arrumando a mesa. Não parecia cansada, nem triste. Até cantava.

Jean ouvia aquela voz tão gostosa e conhecida, lá do seu quarto. “Cara, minha mãe é mesmo uma máquina. Ela não pode ser desse mundo!”, pensou. “Opa! Não é desse mundo? Será que minha mãe é uma extraterrestre como o Kitrix???” o pensamento o atingiu como um raio. “Não… não pode ser! Acho que estou assistindo muita série… isso não existe. Se bem que já encontraram vida em Marte. Quem é que garante que nesse universo infinito não existem mesmo outros seres? Quem é que garante?”

Jean pensou nisso por um tempo e depois resolveu: “Não. Não pode ser verdade. Tá certo que minha mãe parece um robô programado para trabalhar, que não se cansa nem para um minuto pra relaxar. Mas eu sei de onde ela veio. Foi lá de Trás-os-montes, aquela cidadezinha pequena. Minha avó vive repetindo a história da gravidez e do parto, de como minha mãe quase morreu com o cordão umbilical enrolado em seu pescoço. Minha mãe é uma mineirinha que cresceu comendo muito queijo com café quentinho e subindo em pé de goiaba. Tire isso da cabeça, cara! Não viaja!”

O Dia das mães estava chegando e Jean estava ansioso para entregar seu presente. Como em todos os anos, saíram para almoçar num restaurante com a família toda, compraram as flores preferidas dela, gérberas da cor laranja, e Jean ficou responsável por fazer um cartão personalizado, pois ele era o artista da família, “o criativo”, como seus irmãos diziam em tom de zoeira.

Jean fez um lindo e divertido cartão. Na capa tinha o desenho de um céu    estrelado, um planeta e uma E.T. na superfície dele. Ela era toda verdinha, cabeça redonda, careca, grandes olhos e um lacinho rosa na cabeça, de onde saíam duas  antenas. Fincado no  planeta havia uma faixa onde se lia: “Para a melhor mãe da  galáxia!”. Dentro do cartão,  uma mensagem carinhosa de agradecimento e o nome dos três filhos, com a letra de cada um.

A mãe de Jean ficou toda emocionada. Ela amava esse tipo de presente, pois sabia que vinha do fundo do coração. E tudo que ela fazia por eles era por amor.

Depois daquele almoço delicioso, foram todos para casa aproveitar o restante do domingo. Sua mãe finalmente teve um dia de descanso. Enquanto os filhos se reuniram na sala para assistir futebol, ela se dirigiu ao seu quarto e disse que iria descansar um pouco. Ao se deitar, quando já sentia seu corpo adormecer, olhou para o cartão e sussurrou: “Será que já está na hora de contar a verdade?”

Por: Bia Borges

A melhor mãe da galáxia

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